Nos próximos anos iremos assistir a uma explosão do mercado da energia solar descentralizada. Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial fala dos desafios do presente e do futuro do setor.
Se, no início da década passada, a energia solar centralizada registou alguma expansão, a verdade é que a falta de enquadramento regulatório acabou por estagnar o seu crescimento. Desde 2019, ano em que foram lançados pelo Governo os primeiros leilões para grandes centrais, voltámos a registar um crescimento significativo, com vários parques em desenvolvimento.
Em paralelo, o custo nivelado de produção de uma central fotovoltaica – valor do custo unitário de eletricidade ao longo da vida útil do ativo – caiu mais de 80% na última década, o que possibilitou que o solar já seja mais competitivo do que as centrais térmicas convencionais.
A conjugação destes dois fatores – a definição de enquadramento regulatório e a forte redução de custo – deverá levar a uma aceleração desta tecnologia na próxima década.
Relativamente à energia solar distribuída, com painéis instalados nas empresas e nas residências, tem havido uma expansão significativa desde 2015, altura em que foi criado o enquadramento regulatório para o autoconsumo dessa energia – só entre 2018 e 2020, a potência instalada duplicou. Mais uma vez, a redução do custo, assim como uma maior consciencialização ambiental dos cidadãos, ajudou a expandir o mercado. Com estes fatores, associados ao lançamento do conceito das comunidades solares de energia, assistiremos certamente a uma enorme aceleração da energia solar fotovoltaica em Portugal nos próximos anos.
O PNEC 2030 estabelece objetivos ambiciosos, mas alcançáveis. Já estão assegurados cerca de 2 GW de capacidade adicional, através dos leilões promovidos pelo Governo, e está também previsto um novo leilão ainda este ano. Para atingir o objetivo do PNEC, é necessário manter este ritmo de leilões de energia, com regras claras e com projetos com visibilidade a longo prazo, mas é também importante promover os designados “PPA Corporativos”, que são contratos bilaterais de longo-prazo entre um produtor de energia renovável e uma empresa que pretenda adquirir eletricidade verde. No último ano, registou-se um crescimento acelerado desta modalidade em Espanha, com a assinatura de cerca de 4 GW de contratos, e espera-se que Portugal também acompanhe esta tendência, tendo a EDP Comercial assinado recentemente dois PPA com empresas em Portugal.
Mas estas metas só serão possíveis de alcançar se houver uma democratização da energia solar, através do solar descentralizado em clientes residenciais e empresariais. Neste campo em particular, vemos cada vez mais uma enorme aceleração do ritmo de adoção pelos nossos clientes e parceiros.
Um dos principais desafios é o volume de investimento necessário. A associação europeia do setor Eurelectric estima que serão precisos 100 mil milhões de euros por ano, a nível da UE, para ser possível atingir a neutralidade carbónica em 2050. São metas que requerem que os países atraiam mais investimentos na transição energética, o que só será possível se conseguirem garantir aos investidores estabilidade de longo prazo, com legislação e regulamentação adequada, assim como contratos de energia com risco controlado.
Para além da atração de capital, outro ponto crítico é garantir a boa gestão de um sistema elétrico que integra mais de 80% de renováveis, como previsto no PNEC para 2030. Será necessário investir em infraestrutura de suporte e mecanismos de flexibilidade, incluindo redes inteligentes e baterias. A eletrificação de outros usos energéticos, como a mobilidade elétrica e bombas de calor, é também um importante facilitador da integração de renováveis.
Sem dúvida que a democratização da energia solar será um vetor chave da transição energética nacional, uma vez que a implementação de painéis solares em cada vez mais casas e empresas será fundamental, tanto para a transição energética dos próprios consumidores, como para a resiliência do sistema. O PNEC 2030 inclui uma ambição de crescimento solar, dos quais 1.5 GW são solar descentralizado, o equivalente a 1.500 campos de futebol. Estes valores são alcançáveis e, pela nossa experiência, até excedíveis, já que noutros países o solar descentralizado chega a representar 20% de toda a nova capacidade solar instalada.
Hoje em dia, o investimento em painéis fotovoltaicos é extremamente competitivo e com taxas de retorno muito atrativas, quer para clientes empresariais, com um retorno ao fim de quatro a seis anos e uma taxa interna de retorno (TIR) de até 25%, quer para famílias.
Estas são taxas de retorno difíceis de igualar, porque permitem aos clientes recuperar o investimento em relativamente pouco tempo e beneficiar de energia grátis e renovável durante o resto da vida útil da instalação solar, que pode ir até 30 anos.
Por último, através das novas comunidades solares de energia, as empresas e famílias com espaço de telhado disponível para instalações solares também podem beneficiar de condições especiais, cedendo o espaço disponível do seu telhado para a criação de Bairros Solares EDP, que visam fornecer energia renovável aos vizinhos do mesmo bairro.
Em resumo, a descentralização tem um papel fundamental na entrega de poupanças às famílias e empresa e, de forma mais abrangente, na transição energética da sociedade.
Podem existir vários motivos pelos quais uma empresa tenha dúvidas na decisão sobre instalar painéis solares.
Em primeiro, porque existe desconhecimento sobre a oportunidade do ponto de vista económico, a par de nem sempre haver capacidade investimento e disponibilidade de financiamento. Para maximizar a rentabilidade do investimento numa central solar, é preciso encontrar o dimensionamento certo da instalação e construir um business case adaptado à realidade de cada cliente. Isto exige um estudo detalhado da radiação solar na zona, da eficiência do sistema a ser implementado e do perfil de consumo da empresa, para calcular o dimensionamento ótimo da instalação, maximizando o retorno da mesma. Um investimento numa central sub ou sobre dimensionada pode resultar numa poupança e retorno real inferior ao esperado. É, por isso, fundamental que as empresas sejam bem apoiadas na tomada de decisão.
Em segundo lugar, ainda há receio sobre a complexidade de gerir uma central fotovoltaica. Algumas empresas consideram que o trabalho associado à sua operação e manutenção para entregar a energia esperada pode impactar o foco no seu negócio principal, o que acaba por afastar alguns clientes desta decisão.
Por último, muitas empresas podem não ter o espaço suficiente, ou limitações legais de usufruto, para poderem instalar um parque com a dimensão ideal para as suas necessidades.
Na EDP, temos tentado antecipar o que podem ser as barreiras dos clientes na adesão à energia solar descentralizada, procurando encontrar e desenvolver soluções que permitam às empresas ultrapassar estes desafios.
Temos uma equipa de engenharia equipada com as melhores ferramentas de mercado, que trabalha em conjunto com os nossos clientes, na construção de cada business case, de forma a garantir a rentabilidade prometida. Esta equipa personaliza a instalação fotovoltaica de acordo com as necessidades do cliente, apresentando um caso de negócio sobre o qual damos garantias de realização. É uma forma de colocarmos a serviços dos nossos clientes a nossa experiência acumulada nas renováveis.
Por outro lado, para ultrapassar a necessidade de financiamento para o investimento inicial, lançámos um modelo de negócio “As-a-Service”, onde a EDP assume 100% do investimento e se encarrega da operação e manutenção da central durante 15 anos. Neste modelo garantimos que o cliente, para além de não fazer nenhum investimento inicial, beneficia desde o primeiro mês de uma poupança de custos líquida – e toda a gestão da instalação solar é assegurada pela EDP.
Finalmente, para ultrapassar a falta de espaço disponível em muitas empresas, desenvolvemos as comunidades solares de energia, permitindo que beneficiem do espaço disponível em edifícios próximos para aceder à energia solar. Complementarmente, temos um leque de produtos, como os já mencionados “Corporate PPA” que asseguram contratos de fornecimento de energia de longo-prazo com origem renovável e permitem às empresas reforçar o seu compromisso com a sustentabilidade.
In Jornal de Negócios, 18 Jun 2021
Já não basta dizer que “um dia” teremos de começar a fazer as coisas de forma diferente. A mudança tem de ser operada já. A boa notícia é que, efetivamente, já há muitas alterações em marcha. Se, enquanto indivíduos, todos temos uma quota parte de responsabilidade, o mundo empresarial apresenta-se cada vez mais como motor de mudança, já que funciona a uma escala que influencia a economia e a sociedade, de uma forma que, dificilmente, apenas um indivíduo o fará. A não ser que seja alguém como o designer social holandês Daan Roosegaarde. Ouvi-lo falar é, só por si, uma experiência extraordinária. E essa será uma realidade para quem assistir à EDP Business Summit, um evento online a realizar-se esta tarde. Com Daan, compreendemos que o mundo da tecnologia e da preservação do ambiente pode facilmente andar de mãos dadas com o design, a criatividade e a fruição do belo. O seu entusiasmo e a paixão com que fala dos seus projetos faz com que seja muito fácil acreditar que um mundo melhor, menos poluído, mais cooperante e onde estamos todos mais ligados, não só é desejável, como possível. Para Daan, neste mundo hipertecnológico, a criatividade é o nosso verdadeiro capital e a tecnologia pode ser usada para explorar o papel social do design e ativar soluções para melhorar a vida em ambientes urbanos. São muitos os exemplos práticos da forma como coloca este bem valioso ao serviço da comunidade, e com que nos tem brindado ao longo das últimas duas décadas.
Um dos projetos pelo qual ficou conhecido é o Van Gogh Path (O caminho de Van Gogh), inspirado pelo quadro “Noite estrelada” daquele pintor holandês. Daan desenhou uma ciclovia feita de milhares de pedras cintilantes, que recebem luz solar durante o dia e emitem luz à noite. Com uma componente quase mágica, demonstra como se pode iluminar um caminho sem outra fonte que não a energia solar, incentivando (ainda mais) o uso da bicicleta como meio de transporte, e não apenas para lazer. Vencedor de diversos prémios, como “Melhor Conceito de Futuro”, “Prémio de Design Holandês”, “Prémio de Inovação da Accenture” e “Prémio INDEX da Dinamarca”, faz parte de um projeto mais abrangente designado por Smart Highway. Este pretende extrapolar o mesmo conceito, mas para autoestradas. A empresa de construção Heijmans e o atelier de Roosegaarde estão a trabalhar juntos no desenvolvimento destas tecnologias – ‘Glowing Lines’ e ‘Dynamic Paint’ – e já desenvolveram e testaram com sucesso dois protótipos, numa parceria com o município de Eindhoven. Espera-se que venham a ser disseminados por essas estradas fora.
Mas há outro conjunto de projetos com uma pertinência mais palpável, como as suas torres purificadoras de ar, com sete metros de altura. O Smog Free Project, como é designado, remove os poluentes do ar e já foi implementado nas cidades chinesas de Tianjin, Dalian e Pequim, em Roterdão, na Holanda, em Cracóvia, na Polónia, e no Parque Nacional Jirisan, em Pyeongchon-ri, na Coreia do Sul. De acordo com um estudo conduzido pela Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, estas torres reduzem em mais de 45% a presença de partículas poluentes no ar nos 20 metros de diâmetro à volta da estrutura. Curiosamente, as partículas recolhidas durante o processo são comprimidas e transformadas num anel, que é vendido para ajudar a suportar os custos do projeto.
Um espetáculo de luzes que simula a subida do nível das águas do mar nas cidades holandesas foi outro projeto de grande impacto. Mais do que chamar a atenção para o problema em si, quis criar uma experiência comum a todos os que assistiram, ajudando na construção deste futuro que se quer “limpo e bonito” ou “schoonheid” (uma palavra holandesa que Daan usa muito acerca do seu trabalho e que significa beleza e limpeza).
Daan Roosegaarden talvez ainda não conheça Bertrand Piccard, mas ambos usam a sua capacidade de ver o que não é palpável para trabalhar na transformação deste mundo. Ambos têm uma visão otimista da realidade e serão oradores na EDP Business Summit, já esta tarde, uma conferência digital com inscrições grátis.
Nascido no seio de família de exploradores científicos que conquistaram a estratosfera e o abismo, Bertrand Piccard entrou para a história ao dar uma volta num balão sem escalas (o mais longo voo de sempre em duração e distância) e ao realizar mais tarde a volta ao mundo num avião movido apenas pela energia solar (projeto Solar Impulse): voou 42 mil quilómetros em mais de 500 horas, com 17 escalas no total. Embora saiba que ainda não é possível replicar este feito num avião maior de transporte de pessoas e mercadorias, o seu objetivo era sobretudo mostrar que só é impossível o que ainda não foi feito e que as energias renováveis podem alimentar estes impossíveis. Piccard acredita que, mesmo para quem não aja em nome da sustentabilidade, a transição energética é o caminho mais lógico e financeiramente mais vantajoso. “Enquanto poluir o planeta for mais barato do que preservá-lo, a humanidade continuará a fazê-lo. Um ser humano não é propenso a preocupar-se com consequências que duram mais do que a sua existência. É exatamente aqui que o nosso trabalho entra. A proteção do meio ambiente e a mudança de comportamentos precisam de ser recompensadas, ter benefício, dar lucro”.
Fundador e presidente da Solar Impulse Foundation, procurou um conjunto de mil soluções eficientes para proteger o meio ambiente de uma forma lucrativa. Não se trata de ideias ou projetos embrionários, mas produtos ou serviços já no mercado ou em vias de o fazer, às quais não só confere o seu “selo de qualidade” (Efficient Solutions Label), como ajuda a promover. “Elas provam que a divisão entre crescimento e proteção climática está obsoleta e precisa de ser reajustada”, afirma.
E as soluções ambientalmente sustentáveis são muitas: “basta olhar para o nosso portfolio e ficamos com uma ideia do vasto número de oportunidades económicas que existem”. No entanto, alerta que “o trabalho mais importante é garantir que todas estas soluções sejam usadas. É por isso que pretendo ver o maior número possível de líderes empresariais e governantes e convencê-los de que seria absurdo não aproveitar as inúmeras oportunidades disponíveis”.
Para Bertrand Piccard, não há apenas a visão fatalista de parar o desenvolvimento para diminuirmos a nossa pegada ecológica, criando o caos social, nem a necessidade de continuar a poluir para garantir a nossa forma de vida. Há uma terceira via: a do crescimento qualitativo, que permite criar empregos e fazer dinheiro. Basta substituir o que polui pelo que protege o ambiente. Acredita que garantir a qualidade de vida é urgente, pelo que é preciso colocar a inovação e o pioneirismo ao serviço de todos. Bertrand Piccard é Embaixador da Boa Vontade das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Conselheiro Especial da Comissão Europeia. E deve ser ouvido. Assista hoje à tarde ao evento EDP Business Summit.
In Jornal de Negócios, 17 Jun 2021
Se estamos no caminho certo para cumprir os objetivos do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, é preciso acelerar os esforços. E porque a maior causa do aquecimento global é a quantidade de dióxido de carbono lançado para a atmosfera pela atividade humana, estas emissões devem ser severamente reduzidas, para prevenir mudanças climáticas catastróficas. “As emissões de carbono, que são o principal fator que contribui para o aquecimento global, constituem atualmente 60% da nossa pegada ecológica. E o setor elétrico é uma indústria-chave que os países estão a procurar descarbonizar”, reforça Michael Phelan, CEO, Co-Founder da GridBeyond e um dos oradores da EDP Business Summit 2021 – Leaders and Corporations committed to the Energy Transition, um evento digital com inscrição gratuita que decorre já esta tarde, com organização da EDP Comercial.
A eletrificação da energia – depender cada vez menos de combustíveis fósseis e passar a depender de eletricidade limpa – é, efetivamente, um dos principais fatores que está a sustentar a mudança na matriz energética. Calcula-se que, em 2050, cerca de 70% da população mundial deverá viver em áreas urbanas e 50% do consumo total de energia final será de eletricidade. A grande questão, porém, não é apenas descobrir novas formas de produzir e consumir energia, mas massificar o seu consumo, conforme lembra António Coutinho, presidente da EDP Inovação. “Para, em 2050, chegarmos à neutralidade carbónica, grande parte das tecnologias, nomeadamente associadas à energia, são conhecidas. O grande desafio é escalarmos a sua adoção de forma muito generalizada e mudarmos a tecnologia.” É aqui que entra a inovação ao serviço da sustentabilidade. “Temos de ser inovadores a garantir que este processo é mais rápido, é mais fácil de ser adotado pelos clientes e que há modelos de negócio, que não sejam só a venda, que acelerem o processo de adoção”. Sanda Tuzlic, diretora executiva dos serviços de transição energética da Accenture – que estará igualmente presente no fórum da EDP– reforça a importância de se pensar no consumidor, seja empresa ou particular: “Estamos, como nunca, a ver clientes cada vez mais motivados pela sustentabilidade, e as empresas, no ecossistema de energia e não só, estão a sentir uma forte pressão para agir. Além disso, conforme as tecnologias sustentáveis evoluem e amadurecem, os clientes serão cada vez mais motivados pelo próprio negócio: a sustentabilidade faz cada vez mais faz sentido, não só social e ecologicamente, mas também financeiramente.”
Uma área central e com elevado impacto da tendência para a eletrificação da energia é a da mobilidade elétrica e, nos principais mercados de energia, a eliminação progressiva dos motores de combustão interna a favor dos veículos elétricos tem sido apoiada por iniciativas de redução de emissões e criação de redes de mobilidade urbana. Para a EDP, a mobilidade elétrica é um pilar chave da sua estratégia de liderança da transição energética. “E abre a possibilidade de estarmos junto dos nossos clientes também em novos mercados da mobilidade (...) desde o momento em que pensam na aquisição de um veículo elétrico, até ao seu carregamento em casa, na empresa ou na via pública, e na forma como esta experiência deve estar integrada num ecossistema digital”, adianta Pedro Vinagre, administrador da EDP Comercial. E, segundo Roger Atkins, fundador da consultora ‘Electric Vehicles Outlook’, surgem cada vez mais argumentos a favor desta mudança, já que “a paridade de custos está a aproximar-se rapidamente para os veículos elétricos, em oposição aos veículos de combustão interna”. Acrescenta ainda que, sobretudo quando se trata de frotas comerciais, “estamos no ponto de inflexão para muitos, pois o Custo Total de Aquisição já está em paridade, ou até melhor posicionado”.
Calcula-se que, com a necessidade de se reduzir o consumo de energia primária e a consequente aposta na eficiência energética, com destaque para as energias de fonte renovável, a produção de energia solar será a tecnologia que apresentará um dos maiores crescimentos na próxima década. “Portugal é de facto dos países europeus com maior radiação solar e com um enorme potencial por explorar. Se, no início da década passada, a energia solar centralizada registou alguma expansão, a verdade é que a falta de enquadramento regulatório acabou por estagnar o seu crescimento”, quem o diz é Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial. Acredita, porém, que “a definição de enquadramento regulatório e a forte redução de custo deverão levar a uma aceleração desta tecnologia na próxima década”.
Um estudo apresentado recentemente pela consultora Deloitte (Climate Pulse Survey 2021) revelou que a maioria dos líderes empresariais do mundo estão “preocupados” ou “muito preocupados” com as alterações climáticas, e consideram que é urgente agir. E muitos há que já o começaram a fazer e a revelar que se trata de uma aposta ganha, pois, à medida que os custos com a tecnologia diminuem e se alcançam ganhos adicionais de eficiência, os seus projetos empresariais tornam-se mais lucrativos e competitivos. Aqui reside a importância de reunir no mesmo espaço líderes e corporações de todo o mundo, para discutir os princípios e práticas vencedores, que estão efetivamente a acelerar a transição energética. Esta tarde, essa reunião será promovida pela EDP Comercial num fórum a realizar online e intitulado “EDP Business Summit 2021 – Leaders and Corporations committed to the Energy Transition”. A não perder. Faça já a sua inscrição gratuita para a assisitr ao evento.
In Jornal de Negócios, 17 Jun 2021
A transição e a flexibilidade energéticas serão alguns dos temas abordados no painel “Rethinking Power Systems: Understanding Energy Flexibility” da EDP Business Summit 2021 – Leaders and Corporations committed to the Energy Transition, um evento digital com inscrição gratuita que decorre no próximo dia 17 de junho e no qual Sanda Tuzlic irá participar. Com 15 anos de experiência no setor da energia, faz assessoria às empresas no contexto de transição energética, reforma de mercado e transformação digital. Aproveitámos a presença desta especialista no evento para conversarmos e perceber em que ponto estamos nesta transição, quais são os maiores obstáculos e como estão a ser transpostos.
Como é que os consumidores podem ser envolvidos na transição energética? Estão motivados para desempenhar um papel importante nesta transição? Quais são as principais barreiras para a adoção de soluções com emissões zero? Para os consumidores particulares e também para as grandes empresas.
Os clientes são o coração da transição energética e esta só poderá ter sucesso se todos estivermos envolvidos. Estamos, como nunca, a ver clientes cada vez mais motivados pela sustentabilidade, e as empresas, no ecossistema de energia e não só, estão a sentir uma forte pressão para agir. Além disso, conforme as tecnologias sustentáveis evoluem e amadurecem, os clientes serão cada vez mais motivados pelo próprio negócio: a sustentabilidade faz cada vez mais faz sentido, não só social e ecologicamente, mas também financeiramente.
Como tal, o ímpeto crescente entre os consumidores oferece muitas oportunidades para uma maior participação. As tecnologias digitais e de energia comprovadas e emergentes, possuem um enorme potencial para oferecer aos consumidores novos serviços, melhores perceções e mais controlo. Essas oportunidades permitem que os clientes se envolvam pessoalmente e que tomem medidas concretas para ajudar a resolver os problemas climáticos urgentes.
No entanto, muitos consumidores (grandes e pequenos) ainda enfrentam muitos obstáculos para participar da transição energética. No estudo mais recente feito pela Accenture – New Energy Consumer Research – observámos quatro barreiras principais à adoção de soluções de energia com carbono zero:
• Muitas opções: os clientes sentem-se sobrecarregados com a ampla gama de opções de isolamento residencial, sistemas de energia renovável ou um veículo elétrico, e desejam soluções simples e personalizadas. Em muitos casos, ainda não sabem ou não têm certeza sobre os benefícios para a sua carteira e conforto, bem como para o meio ambiente. Para ter sucesso, as soluções devem ser simples e claras.
• Informações insuficientes: os clientes desejam uma visão melhor dos custos e benefícios reais das soluções de baixo carbono por parte de autoridades confiáveis. Também precisam de transparência sobre como os seus dados estão a ser usados, com quem são compartilhados e a capacidade de fazer as suas próprias escolhas.
• Falta de opções de financiamento: fundamentalmente, os clientes precisam de soluções acessíveis e de baixo carbono – sejam Veículos elétricos, parques solares PV, baterias, bombas de calor ou gestão de energia –, o que requer melhores soluções de financiamento.
• Incerteza sobre o uso de dados e privacidade: o papel crescente da tecnologia nas residências e empresas cria uma riqueza de dados com enorme potencial para envolver os consumidores na transição de energia e para adaptar novos serviços, mas esses benefícios precisam de ser equilibrados com a proteção da segurança e privacidade do indivíduo. Os fornecedores precisam de conquistar e manter a confiança dos clientes, para atendê-los de maneira eficaz.
Como é que os fornecedores de energia podem promover e incentivar a adoção de soluções de emissão zero?
O fornecedor de energia pode ajudar a superar as barreiras existentes, agindo como parceiro confiável. Para cumprir essa função, é necessário monitorizar o desenvolvimento da tecnologia, para fornecer aos consumidores as soluções mais eficazes e relevantes. As tecnologias digitais e de energia comprovadas e emergentes possuem um enorme potencial para oferecer aos consumidores novos serviços, melhores perceções e mais controle: os medidores inteligentes são apenas o começo. A proliferação de dispositivos conectados – incluindo eletrodomésticos, tecnologia móvel e de informática, bombas de calor e veículos elétricos – aumenta radicalmente o potencial de otimização da procura. As empresas de energia podem ajudar os consumidores a usar o poder da nova tecnologia para reduzir complicações e custos, aumentando o controlo e obtendo novas receitas, como por exemplo, da venda de sua própria eletricidade. Cada vez mais, o poder da tecnologia pode tornar os novos serviços de energia muito simples para os consumidores, mesmo que o funcionamento subjacente seja extremamente complexo. A resposta à procura é um exemplo disso. A complexidade tecnológica e organizacional de fornecer serviços de resposta à procura para o mercado de flexibilidade de eletricidade[1] é irrelevante para a maioria dos consumidores, desde que eles controlem e beneficiem desse impacto nas suas contas de energia. Os fornecedores de energia têm um papel crítico a desempenhar na conceção de serviços e ofertas fáceis de usar, confirmando uma experiência de procura-resposta simples e intuitiva.
Como superar a intermitência das energias renováveis?
A intermitência renovável está a levar a uma necessidade clara e crescente de flexibilidade no sistema elétrico europeu – com mais de €8 mil milhões de gastos no segmento de flexibilidade de energia europeu[2] em 2020. O setor está a ser desafiado a encontrar novas maneiras de combinar a oferta e a procura. Isso exigirá um uso mais amplo de soluções atuais comprovadas, bem como novas fontes de flexibilidade, como veículos elétricos, levando a um potencial muito maior de participação do lado da procura, para atender às necessidades de flexibilidade da rede.
Pensa que os países da União Europeia (UE) – e particularmente Portugal – estão no caminho certo para cumprir os ambiciosos objetivos fixados pela UE para 2050? Ainda há muito a ser feito?
A Europa está no centro da mudança com muitos mercados – como a Dinamarca, Portugal, a Irlanda, a Espanha, a Alemanha e o Reino Unido – já excedendo 20% de renováveis variáveis anuais no seu mix de geração. Em 2030, projeta-se que a Europa alcance 55% da parcela de energias renováveis variáveis e mais de 70% do total de energias renováveis no seu mix de geração. As redes de transmissão e distribuição, assim como os mercados de energia, devem ser transformados para apoiar o aumento dos recursos variáveis, através de uma maior interconexão da rede europeia, com mercados de equilíbrio conectados e harmonizados e a participação de recursos de energia distribuída nesses mercados.
Para alcançar a neutralidade carbónica, com 100% de produção de eletricidade renovável e emissões líquidas neutras, deve haver um sistema de energia integrado[3]. Isto implica a eletrificação em grande escala de edifícios, dos transportes e da indústria, o que exigirá um aumento de produção de eletricidade sem emissões. Para setores mais difíceis, como o transporte de mercadorias e indústrias pesadas, serão necessárias outras soluções além da eletricidade, como o hidrogénio. À medida que o sistema se torna cada vez mais integrado, a colaboração intersectorial das partes interessadas é fundamental para conduzir a níveis mais elevados de eficiência do sistema, ao mesmo tempo que coloca os consumidores no centro da transição energética.
In Jornal de Negócios, 15 Jun 2021
A transição energética é um processo longo numa corrida contra o tempo. A EDP tem todas as condições para liderá-lo e mobilizar outros agentes da sociedade. O compromisso da empresa com a sustentabilidade do planeta e as energias renováveis já vem de longe e traduz-se em ações concretas, como o encerramento da Central a carvão de Sines em janeiro deste ano e o investimento de 24 mil milhões de euros na transição energética até 2025.
De acordo com a Associação Portuguesa de Energias Renováveis, Portugal encontra-se em quinto lugar do top mundial da incorporação de energias renováveis na produção de eletricidade. No primeiro semestre de 2020, cerca de 59% da energia produzida no nosso país teve origem verde, contra 41% de origem fóssil. Entre as renováveis, a energia eólica e a hídrica merecem destaque, com 26% e 20% respetivamente.
Do lado do consumo, os números refletem também uma maior consciência ambiental e a perceção de que as soluções verdes são também economicamente sustentáveis. Dados do Observatório de Energia, do passado mês de abril, mostram que as energias renováveis representaram mais de 58% da energia consumida em Portugal.
“Mas as renováveis são não só voláteis, como também tendem a não ter os mesmos níveis de inércia que as centrais de carbono”, salienta Michael Phelan, CEO da GridBeyond – empresa líder em soluções de otimização de consumo energético e alvo de seis milhões de euros de investimento da EDP Comercial em 2020. As centrais a carvão, por exemplo, têm o que se chama de “inércia do sistema”. Isto significa que mesmo que uma central colapse, interrompendo a produção de energia, a energia existente nos grandes grupos geradores dará tempo à rede para reiniciar outra central, sem interromper a distribuição de energia. Mas serão as energias renováveis fiáveis o suficiente para assegurar o fornecimento de energia elétrica de forma segura e a baixo custo?
A EDP acredita que sim. É claro que o aumento da produção de energia a partir de fontes renováveis traz novos desafios para manter o equilíbrio do sistema. É necessário encontrar mecanismos que garantam essa estabilidade, de forma a assegurar que não há interrupções no fornecimento.
O armazenamento de energia, na forma de baterias comerciais, é uma das ferramentas críticas para conseguir este equilíbrio da rede, particularmente quando emparelhado com tecnologia Demand Side Response (DSR) para criar uma rede híbrida. Mas não é suficiente por si só.
“Para aumentar com segurança a integração das renováveis na rede, os operadores dependem das novas tecnologias, como as da GridBeyond, para monitorizar o equilíbrio entre procura e oferta e automatizar a redução ou o aumento do consumo de energia do lado da procura”, explica o cofundador da empresa. A aposta na GridBeyond faz parte da estratégia de expansão internacional da EDP Comercial e de liderança da transição energética. Estima-se que o mercado de serviços de sistema, por via da gestão da flexibilidade na carga dos clientes, atinja, a nível mundial, uma capacidade global acumulada acima dos 1.000 GW em 2040 – o equivalente a 46 vezes a atual capacidade instalada em Portugal.
Sensibilizar as empresas para o seu papel na transição energética e na manutenção do equilíbrio da rede é crucial. Em 2020, 69% das instalações consumidoras intensivas de energia registadas no Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia pertenciam ao setor da indústria, 27% ao dos serviços e 4% ao da agricultura e pescas. O primeiro passo será otimizar o seu consumo de energia, de forma a que possam utilizar mais energia quando a rede não está sobrecarregada e que abrandem essa utilização, quando a rede mais precisa.
“Muitos consumidores têm cargas flexíveis, cujo funcionamento pode ser ajustado em função das necessidades dos sistemas elétricos”, explica fonte oficial da EDP. As empresas reduzem ou aumentam o consumo energético das suas instalações quando recebem o pedido do operador da rede para o fazer, ajudando desde modo a rede a manter a sua estabilidade. Assim, o sistema torna-se mais estável e reduz-se a necessidade de reservas de gás e carvão quando as fontes renováveis estão intermitentes. Por outro lado, esses negócios tornam-se mais verdes e acedem a programas financeiros lucrativos, pois os operadores da rede pagam-lhes pela sua disponibilidade para suportar o equilíbrio da rede. e flexíveis nos mercados energéticos”.
A GridBeyond, líder mundial em tecnologia inteligente para o mercado energético e parceira da EDP, esclarece os principais conceitos da transição energética.
As emissões de carbono são o principal fator que contribui para o aquecimento global e atualmente constituem 60% da nossa pegada ecológica. O setor da eletricidade é uma indústria-chave que todos os países estão a tentar descarbonizar. A rede está a ficar cada vez mais verde e mais sustentável; mas as metas de descarbonização não podem ser atingidas sem investimento suficiente e políticas que impulsionem e encorajem o avanço tecnológico de todas as indústrias e setores da nossa economia.
Refere-se à redução da dependência de grandes centrais energéticas e à dispersão da produção por centrais mais pequenas. A energia descentralizada é aquela que é produzida perto de onde será utilizada, em vez de uma grande central, em que o transporte depois é feito através da rede. O principal benefício é a diluição dos riscos que provêm da volatilidade da geração das energias renováveis. Por outro lado, uma parte da energia perde-se durante o transporte; com a geração distribuída, o sistema torna-se mais eficiente, reduzindo as suas perdas.
É um termo que abrange um tipo de serviço energético que os consumidores de eletricidade podem usar para manter a rede equilibrada. A DSR (cuja tradução é “Resposta do Lado da Procura”) oferece uma solução para o problema da intermitência das energias renováveis. Os grandes utilizadores de energia dos vários setores que decidem tirar partido de programas DSR ajudam os operadores de rede a atingir as metas de descarbonização, enquanto beneficiam de receitas adicionais e economizam custos energéticos.
O mercado energético está a passar por mudanças complexas. Como tal, exige uma gestão e monitorização efetivas através da aplicação de tecnologias de ponta em todas as áreas do sistema de eletricidade, desde a geração à transmissão, distribuição, oferta e procura. A total descarbonização da economia começa com soluções tecnológicas avançadas que ajudam a eliminar os combustíveis fósseis das redes energéticas. Isto só será possível quando a rede se digitalizar ao ponto de conseguir gerir níveis mais elevados de produção renovável e descentralizada, quando integrar tecnologias como os veículos elétricos e desbloquear a flexibilidade para equilibrar a procura e a oferta. A tecnologia é vital para garantir que a meta para 2050 definida pelo Acordo de Paris é atingida.
As energias solar e eólica são altamente intermitentes devido às alterações meteorológicas. Isto cria problemas com o equilíbrio entre a oferta e a procura e altera a estabilidade da rede. Para aumentar com segurança a sua integração na rede, os operadores dependem das novas tecnologias, como as da GridBeyond, para monitorizar o equilíbrio entre procura e oferta e automatizar a redução ou o aumento do consumo de energia do lado da procura. O armazenamento de energia, na forma de baterias comerciais, também se tornou numa ferramenta crítica para o equilíbrio da rede.
No contexto da energia, é definida como a diferença entre a máxima ou a mínima quantidade de energia que um equipamento ou local pode consumir enquanto trabalha devidamente, sem qualquer impacto na sua integridade operacional. O papel das grandes empresas de indústria e comércio na economia descarbonizada é tornarem-se participantes ativos e flexíveis nos mercados energéticos, explorando as oportunidades do mercado e as tecnologias inteligentes.
Se quer conhecer mais sobre a transição energética e as oportunidades que a sua empresa pode ter nesta área, assista ao EDP Business Summit.,
In Jornal de Negócios, 14 Jun 2021