Para os oradores convidados do painel “Rethinking Power Systems: Understanding Energy Flexibility”, da EDP Business Summit’21, moderado por António Coutinho, presidente da EDP Inovação, não há dúvidas: aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis traz novos desafios para manter o equilíbrio do sistema.
O sol, a água e o vento não estão sempre disponíveis nem produzem energia de forma contínua. É, por isso, necessário encontrar mecanismos que garantam a estabilidade da rede, de forma a assegurar que não há interrupções no fornecimento. Mas há um limite para o número de fontes de energia que um sistema consegue acomodar. Com o aumento das energias renováveis, só através de mecanismos de flexibilidade será possível integrá-las a todas.
“O aumento do lado da procura da geração energética bem como da mobilidade elétrica exige, da perspetiva de um sistema de energia, um amortecedor: a flexibilidade, que precisa de manter permanentemente o equilíbrio entre oferta e procura”, explicou Norela Constantinescu, uma das oradoras convidadas e que lidera atualmente a equipa de pesquisa e inovação do European Networks for Transmission System Operators for Electricity (ENTSO-E). Neste novo modelo energético, o consumidor – empresarial ou particular – é agora também um produtor de energia, ou um “prosumidor”: consome eletricidade, mas também fornece à rede a energia que possui em excesso ou armazenada, sempre que for solicitada. Consequentemente, “esta é a oportunidade para as empresas e para os clientes residenciais reduzirem os seus custos energéticos e contribuírem para o planeta”, salientou Sanda Tuzlic, diretora executiva dos serviços de transição energética da Accenture, que marcou presença no mesmo painel. Efetivamente, a contribuição para o equilíbrio do sistema energético tem um preço, suportado pelos operadores e que se reflete diretamente na fatura de eletricidade do consumidor.
Para esta especialista, “envolver os clientes é fundamental”. “É necessário colocá-los no centro da transição energética”, reforçou Norela Constantinescu. Isso só será possível, segundo Tuzlic, através de transparência, simplicidade e controlo. Defendeu ainda que o cliente tem de saber com o que pode contar, o processo tem de ser simples, e tem de sentir que controla todas as etapas. É também fundamental que a flexibilidade torne todos estes esquipamentos – como por exemplo, os veículos elétricos – mais acessíveis em termos económicos.
Derrubar barreiras
A flexibilidade dos sistemas energéticos vai desde uma geração mais flexível até sistemas de transmissão e distribuição mais fortes, mais armazenamento e uma procura mais flexível. Estima-se que o mercado de serviços de sistema, por via da gestão da flexibilidade na carga dos clientes, atinja, a nível mundial, uma capacidade global acumulada acima dos 1.000 GW em 2040 – o equivalente a 46 vezes a atual capacidade instalada em Portugal.
Os oradores presentes concordaram que é urgente acelerar todo este processo para cumprir, até 2050, as ambiciosas metas do Acordo de Paris. Para isso, dizem, precisamos de legisladores criativos e com um espírito inovador. Como Sanda Tuzlic ajudou a concluir: “é preciso agir, temos de transformar a espinha dorsal do nosso setor energético; derrubar barreiras técnicas e regulamentares”.