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Transição energética: ponto de situação

Transição energética: ponto de situação

Os mais otimistas acreditam que estamos no caminho certo para cumprir os objetivos do Acordo de Paris: limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. Mas há visões menos risonhas. Em ambos os casos, todos concordam: os números não enganam e é preciso agirmos já.

Para a Agência Internacional de Energia (IEA) não há dúvidas: é possível construir um setor global de energia com emissões neutras em carbono em 2050, mas vai ser preciso fazer uma transformação sem precedentes na forma como produzimos energia, como a transportamos e como a usamos. No entanto, de acordo com um relatório lançado por aquele organismo em maio deste ano – “Neutralidade carbónica até 2050: um roteiro para o setor de energia global” – ainda que todas as promessas climáticas fossem cumpridas, ficaríamos aquém do objetivo proposto. Apresentado como o primeiro estudo abrangente que pode funcionar como mapa para fazer a transição energética até 2050, para as empresas e para os cidadãos, mostra como se pode garantir o fornecimento universal de energia estável e acessível, proveniente na quase totalidade de fontes renováveis, sem descurar o desenvolvimento económico. Dá-se o papel principal à energia de fonte solar e eólica e aborda-se a bioenergia, a captura de carbono e as necessárias mudanças estruturais, desde comportamentos, consumos, estado dos edifícios, entre outros.

Joana Portugal Pereira, investigadora convidada do Imperial College London (CEP/ICL) e professora em Planeamento Energético (COPPE/UFRJ) congratula-se com a publicação deste relatório, que vem confirmar o que a comunidade científica tem vindo a alertar nos últimos anos. Técnica e economicamente falando, para a investigadora o caminho é possível. “Dentro do contexto europeu, temos vozes muito progressistas e muito ambiciosas, que estão na liderança da implementação de tecnologias de baixo carbono e na mitigação das alterações climáticas. Mas, por outro lado, também temos sinais contraditórios”. Exemplifica com os pacotes de recuperação económica no âmbito da pandemia Covid, referindo que, se apenas um quarto do dinheiro injetado será dedicado a tecnologias de baixo carbono, para promoção da eficiência energética, para o aumento da penetração de renováveis,  para os transportes públicos e para a melhoria das infraestruturas urbanas, “os restantes três quartos são canalizados para tecnologias hipercarbónicas. Tecnologias estas que a IEA veio, na semana passada, lembrar da necessidade de descontinuar”. Ainda assim, não esmorece: “quero acreditar que estamos no caminho certo, mas temos de ser mais hábeis, mais ambiciosos e mais rápidos”.

As tendências do mercado

O mundo parece ter-se unido nesta demanda e as tendências em curso revelam-no. No quinto relatório internacional da Stakraft, a maior produtora de energia da Noruega, intitulado “Baixas Emissões – Cenário 2020”, são identificadas quatro tendências relevantes para o mercado da energia. A descarbonização, e a consequente queda dos custos de energia renovável, são apresentadas como a primeira tendência. De acordo com a Stakraft, vivemos uma revolução neste mercado, em que, em diversos países, já é mais barato mudar para a produção de energia renovável do que construir novos equipamentos ou fábricas, favorecendo uma descarbonização dos maiores sistemas de energia do mundo. O estudo revela, por exemplo, que, em 2019, nos Estados Unidos, a produção de energia a carvão caiu 16% e na União Europeia 24%. Dados do primeiro semestre de 2020 indicam uma queda de 32% na UE. Segundo o mesmo relatório, 2019 foi a primeira vez em décadas em que aumentou a procura por eletricidade, mas a produção gerada a partir de conbustíveis fósseis diminuiu. Foi também o primeiro ano em que a eletricidade gerada a partir de fontes renováveis e da energia nuclear ultrapassou a gerada a partir do carvão.

A segunda tendência identificada diz respeito à redução das emissões através da eletrificação crescente dos transportes, edifícios e indústria. O estudo prevê que, em 2050, a eletricidade irá cobrir 43% da procura global de energia: a quase totalidade dos automóveis e 60% dos transportes pesados terão como combustível a eletricidade ou o hidrogénio. Em Portugal, as projeções não são tão otimistas, mas seguem no mesmo sentido. De acordo com o Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030 (PNEC) em 2030 irá procurar alcançar-se 32% de quota de energia proveniente de fontes renováveis no consumo final bruto; 32,5% de redução do consumo de energia; 40% de redução das emissões de gases com efeito de estufa relativamente aos níveis de 1990; e 15% de interligações elétricas.

A terceira tendência apontada para o mercado de energia diz respeito à utilização do hidrogénio verde e de amónia. Já em março deste ano, um conjunto de ambientalistas e empresas de navegação e comércio marítimo, enviavam uma carta à Comissão Europeia e à Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), a promover o uso destes combustíveis sustentáveis quando a eletrificação direta se apresenta como um desafio, lembrando que o transporte marítimo é responsável por cerca de 13% das emissões de gases com efeito de estufa. No relatório referido, estima-se que, em 30 anos, o hidrogénio verde, livre de emissões, poderá cobrir 6% da procura total de energia no mundo. Joana Portugal pede alguma cautela, já que ,“em alguns casos, muito específicos, os nossos modelos mostram que o hidrogénio pode ser competitivo, sobretudo nos setores de difícil descarbonização, como alguns setores de transporte pesado de mercadorias, de curta distância e para apoiar o armazenamento de energia em baterias. Mas temos de pensar que o hidrogénio não será uma panaceia e depende muito de caso para caso, porque neste momento não é uma tecnologia economicamente competitiva. Temos de melhorar as eficiências de produção e reduzir os custos marginais para que se mostre um vetor energético competitivo com outras fontes atuais”.

A interação entre os diferentes setores energéticos é a quarta e última tendência. Efetivamente, a maioria dos especialistas concorda que a solução passa pela ligação de todas estas formas de energia, “pela fotovoltaica, pela eólica e pelo pouco potencial da hidroelétrica que ainda seja possível expandir, sem entrar em conflito com outras dimensões dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Precisamos de investir em todas elas, em várias frentes, de uma forma muito ambiciosa”, diz.

Desafios para Portugal

Reduzir a dependência energética do exterior é um dos principais desafios e objetivos da atual política energética nacional, já que o nosso país apresenta uma dependência energética estrutural muito elevada: entre 80 % e 90 % até 2009. No entanto, na última década, tem tido uma evolução notável, graças à aposta nas energias renováveis e na eficiência energética, atingindo os 74% em 2019 (segundo os dados da Direção Geral de Energia e Geologia, lançados em 2021).

Vale a pena olhar para os números da produção de energia solar, pois é a fonte de energia em crescimento mais rápido no mundo. Aqui, é importante considerar as suas duas vertentes – a produção em grandes centrais solares, que está a acelerar agora em Portugal, e a produção distribuída, nas nossas casas e empresas, produzindo e consumindo energia solar.

Em Portugal, em termos relativos, a tecnologia que mais cresceu foi precisamente a solar fotovoltaica, tendo evoluído de uma potência instalada de 584 MW em 2017 (em que 278 MW proveio de geração distribuída) para 731 MW (dados de abril de 2019), dos quais 334 MW correspondem a geração distribuída. A redução dos custos de produção dos painéis fotovoltaicos solares, a par do aumento da procura por energia renovável, fazem com que seja uma das formas mais baratas de produzir eletricidade, factos que irão ditar a continuação do seu crescimento. O relatório da Stakraft atreve-se mesmo a projetar de que será a principal fonte de geração de energia já em 2035.

A EDP está à frente neste caminho. Recentemente, anunciou um plano estratégico ambicioso em que pretende duplicar até 2025 a sua capacidade eólica e solar e crescer 10 vezes nos parques solares descentralizados, em residências e empresas, tornando o acesso à energia solar mais democratizada e acessível por cada vez mais pessoas.  Com os seus clientes, a empresa já instalou 50 mil sistemas de solar em casas e empresas de Portugal e Espanha, que produzem energia limpa para autoconsumo.

Estão também a ser criados por todo o país os Bairros Solares EDP, comunidades de energia renovável produzida localmente e que pretendem beneficiar não só os produtores, como os membros dessa comunidade. Os painéis solares são instalados num local, com investimento 100% da EDP Comercial, e a energia produzida é partilhada com os vizinhos, que acabam por beneficiar da energia solar com descontos na fatura. Este tipo de projetos vem reforçar a ideia de que, se o mundo é de todos, a solução passa por todos. E por cada um.

PNEC: metas para 2030

De forma a alcançar-se a neutralidade carbónica em 2050, estabelecem-se, para Portugal, os seguintes objetivos:

Emissões GEE – -45% a -55% (face a 2005)

Eficiência energética – 35%

Renováveis – 47%

Renováveis nos transportes – 20%

Interligações elétricas – 15%

Energias renováveis no consumo de eletricidade – 80%

Melhores práticas em nome da neutralidade carbónica

– Produção solar própria para reduzir despesas;

– Abertura de postos privados de carregamento de veículos elétricos a outros utilizadores;

– Eletrificação dos edifícios, indústria e transportes;

– Consumo exclusivo a partir de fontes renováveis;

– Eficiência e certificação energética dos edifícios.

EDP
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Líderes e empresas comprometidos com a transição energética