Foi em 1999, depois da sua volta ao Mundo num balão de ar quente, que Bertrand Piccard sonhou com um avião solar. Na sua intervenção na abertura do EDP Business Summit’21, quis contar a história desse projeto, que o tornou num dos maiores promotores do desenvolvimento sustentável a nível mundial. A importância do combustível para o sucesso da sua missão a bordo do balão de ar quente – que levantou com 3,7 toneladas de propano líquido e aterrou com apenas 40 quilos – impeliu-o a mudar de direção: iria repetir a volta ao mundo, mas desta vez sem qualquer combustível fóssil.
“O céu não é o limite. O combustível é que é o limite”, contou em tom de brincadeira. “O sonho era nunca ter de voltar a aterrar para abastecer.” A indústria aeronáutica não quis apoiá-lo e acabaria por ser um estaleiro naval a apostar no projeto. “Tivemos de nos voltar para alguém que não pensava ser impossível”, relata. Mas como iria voar durante a noite? A resposta era simples: seria preciso armazenar a energia solar acumulada durante o dia.
Solar Impulse, o maior avião alguma vez construído com tão pouco peso ficaria pronto em fevereiro de 2014 e descolaria um ano mais tarde. Graças aos muitos testes efetuados, completou a missão com sucesso: voou 42 mil kms em mais de 500 horas, com 17 escalas no total. Durante a aventura, estabeleceu 19 novos recordes oficias da aviação. Um deles foi o do voo ininterrupto mais longo: 118 horas entre Nagoya (Japão) e o Havai (EUA). O grande objetivo da viagem era promover as energias renováveis e demonstrar que as viagens sustentáveis de avião não são uma miragem.
“Quando estava no ar, lembro-me de olhar para o sol que mantinha os meus quatro motores a trabalhar e pensar: isto é ficção científica. Mas não, era apenas o que a tecnologia de hoje já me permitia fazer”, salientou. No seguimento desta aventura, fundou a Solar Impulse Foundation que, entre outros projetos, se tem dedicado a recolher as 1000 soluções empresariais mais sustentáveis e lucrativas, para alterar o paradigma de que precisamos de deixar de crescer economicamente de forma a proteger o ambiente.
Piccard deixa o desafio: “Identificar soluções existentes que podem ser comercializadas e implementadas agora. Mas têm de ser ecológicas e lucrativas ao longo de todo o ciclo”.