A transição energética trará “85 milhões de empregos em 2030 e um grande aumento no PIB mundial”. Foi com esta premissa que Vera Pinto Pereira, membro do Conselho Executivo da EDP, deu início à segunda edição desta conferência internacional sobre as energias renováveis, este ano sob o mote “Here Comes The Sun” ou “Aí vem o Sol”. Oradores internacionais como o norte-americano Roger Ballentine, ex-assessor do Presidente Bill Clinton para as alterações climáticas, ou o perito britânico em tendências tecnológicas e inovação, David Rowan, explicaram a investidores e a empresários do setor, como o investimento em energia solar traz retornos interessantes e é, ao mesmo tempo, transformador do planeta.
O sol está no centro da transição energética. Não só representa um importante contributo para a descarbonização da economia como garante retorno de investimento para as empresas. A energia solar e a forma como a regulação e a inovação a podem impulsionar estiveram em debate na 2ª edição do EDP Business Summit, emitida a partir da sede da elétrica, em Lisboa.
Vera Pinto Pereira abriu com a “oportunidade” da transição energética
Vera Pinto Pereira, membro do Conselho Executivo da EDP, abriu o EDP Business Summit a lembrar o compromisso da elétrica de ser “totalmente verde em 2030” e de olhar para a transição energética como “uma oportunidade”. “85 milhões de empregos em 2030 é o que traz a transição energética e um grande aumento no PIB mundial”, frisou Vera Pinto Pereira. A energia solar será um “grande impulsionador” da “corrida à neutralidade carbónica”, referiu.
A produção com origem fotovoltaica está “a quebrar recordes ano após ano”, afirmou Vera Pinto Pereira, lembrando que se atingiu “1 terawatt de capacidade instalada este ano, 40% do qual pertencendo à energia solar distribuída, um número que vai aumentar”. O solar é uma “oportunidade” que garante também maior previsibilidade, realçou, considerando a atual “volatilidade dos mercados de energia”.
Tudo sobre a transição energética: re-imaginando um futuro sustentável
Para falar sobre a vertente financeira e o investimento na transição energética, o EDP Business Summit trouxe Roger Ballentine, ex-consultor sobre alterações climáticas do antigo Presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e presidente da Green Strategies Inc, uma consultora “que ajuda investidores e empresas por todo o mundo a chegar à descarbonização e a introduzir as alterações climáticas nas estratégias de investimento”, como o próprio descreveu no início da sua intervenção.
Roger Ballentine, presidente da Green Strategies Inc, falou sobre a estratégia ESG das empresas
Roger Ballentine, presidente da Green Strategies Inc, falou sobre a estratégia ESG das empresas
A receita para o sucesso das empresas hoje é o “capitalismo climático”, que, como o consultor lembrou, foi tema de uma TedTalk que apresentou há 4 anos. Por outras palavras, as empresas têm de aliar o objetivo de ter lucro “aos interesses das pessoas e do planeta”, porque os novos consumidores, os Millenials e a Geração Z, já se interessam pela sustentabilidade, sublinhou. A fórmula é seguir uma estratégia “verde” ou ESG (“Environment, Social and Governance) – Ambiente, Social e Governação. O “E” é a letra mais importante, a juntar ao “C” de clima que não está na sigla, frisou.
Para “gerir o risco e maximizar a oportunidade”, os investidores devem adotar uma “estratégia climática”, como a define. As energias limpas garantem “novos mercados”. “Vamos ultrapassar os 41 biliões de dólares de fundos geridos por uma filosofia de ESG”.
Ballentine deixou um conselho final para empresas e investidores do setor: “O que eu digo às empresas sobre o ESG é arranjem um plano, cumpram-no e executem-no, porque este será o caminho para o sucesso a curto e longo prazo”.
Solar, uma Escolha Óbvia
Para explicar porque vale a pena investir na energia solar, o EDP Business Summit reuniu Frederic El-Ahdab, Chief Security Officer (CSO) e diretor para a área da neutralidade carbónica do grupo Faurecia; Guy Pacheco, Chief Financial Officer (CFO) dos CTT; José Luís da Mata Torres, Diretor de Supply Chain da Sociedade Central de Cervejas, e Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial.
Durante o debate, a realidade das alterações climáticas e o contexto atual europeu de crise energética foram lembradas na intervenção de Miguel Fonseca, centrada precisamente no facto de este ser o momento histórico certo para investidores e governos apostarem na energia solar.
“O que faz a energia solar acelerar é uma chamada para a ação, as alterações climáticas são reais”, sublinhou o administrador da EDP Comercial, empresa que definiu uma estratégia para ser totalmente verde em 2030. Com o conhecimento de fundo do setor, Miguel Fonseca acrescentou que “o investimento em solar “representa retors em torno dos 25% e até mais se virmos o contexto atual”.
O administrador da EDP Comercial lembrou, no entanto, que há obstáculos que têm de ser ultrapassados para se acelerar o passo na adoção do solar como fonte energética principal.
O grupo Faurecia, que tem uma parceria com a EDP, através da qual irá instalar até 100 megawatts de energia solar em mais de 60 locais em Portugal, Espanha, Itália, Estados Unidos, China, Coreia do Sul, Japão e Tailândia. Frederic El-Ahdab explicou porquê. “Queremos descarbonizar a nossa atividade o mais rápido possível, esse é o nosso principal objetivo e a razão de termos apostado em energia solar nas nossas instalações, em parceria com a EDP”. Quando na plateia lhe perguntaram “Porquê agora?”, El-Ahdab respondeu: “A questão é porquê só agora e não antes”. Na sua intervenção O CSO do grupo Faurecia referiu ainda a importância de encontrar o “parceiro certo” para este tipo de investimentos.
Frederic El-Ahdab, CSO do grupo Faurecia, explicou a parceria que tem com a EDP
Frederic El-Ahdab, CSO do grupo Faurecia, explicou a parceria que tem com a EDP
Por sua vez, Guy Pacheco, CFO dos CTT – Correios de Portugal, lembrou a parceria da empresa com a EDP para a implementação dos bairros solares que trazem energia a famílias e a negócios, com uma capacidade instalada de 6 megawatts. O solar é uma das alavancas importantes para a estratégia de descarbonização dos CTT e já trouxe resultados significativos para a empresa: “Temos mais de 20% da nossa conta de eletricidade garantida por uma produção solar, e continuamos à procura de ter mais instalações solares, um crescimento que iremos alavancar sobre as 800 localizações que temos na Península Ibérica”.
José Luís da Mata Torres, da Sociedade Central de Cervejas, também assumiu o “roteiro claro” que a empresa tem para atingir a neutralidade carbónica. “Fazemos parte do grupo Heineken e temos uma responsabilidade grande na sustentabilidade. Seremos neutros em 2030”, garantiu, frisando que essa meta será cumprida através do recurso à energia solar,” mas antes disso temos de atingir 50% da neutralidade.”
No contexto de aceleração do solar é também necessária uma mudança de paradigma ao mais alto nível decisório, dentro do espaço europeu, insistiu Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial. A geração solar fotovoltaica garantiu 12% de toda a eletricidade no espaço europeu no verão passado, as comunidades de energias renováveis são já uma realidade, mas é preciso acelerar o processo de adoção desta fonte energética, em três frentes no espaço europeu. “Primeiro, na cadeia de abastecimento, porque ainda estamos muito dependentes das rotas da China; segundo, a nível de mão-de-obra porque precisamos de pessoas para instalar e operar os painéis fotovoltaicos e, por último, ao nível das empresas”. No que diz respeito às empresas, é preciso acelerar o processo de tomada de decisões quando se fala em adotar a energia solar. “Cada vez mais as empresas têm de se virar para fora e encontrar os parceiros certos de um forma mais rápida”.
No contexto europeu, Portugal encontra-se numa posição privilegiada, não só na produção de energia solar como no enquadramento regulatório, referiu o administrador da EDP Comercial. “Portugal é um dos países na vanguarda quando falamos do regulamento das comunidades energéticas. Temos de acelerar para dar os melhores exemplos”. Um ponto comum sublinhado por todos os oradores é que os investidores querem rapidez na implementação do solar, querem saber se é exequível e se há retorno. “A pergunta que mais ouço é como serão os preços da energia daqui a dez anos”, afirmou Miguel Fonseca, salientando que a volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis, em conjunto com as alterações climáticas, mais do que justificam a necessidade de acelerar a escolha do solar como fonte energética.
Armazenamento como Elemento Impulsionador da Transição Energética
A energia solar ultrapassou a marca de 1 terawat a nível global no início deste ano. Ou seja, a capacidade de solar duplicou nos últimos três anos. O armazenamento terá de acompanhar esse crescimento. Walburga Hemetsberger, CEO do SolarPower Europe, grupo que faz a ligação entre os legisladores e os políticos e 280 organizações do setor solar, frisou, na sua intervenção remota a partir de Bruxelas, a importância do REPowerEU e a oportunidade de “colocar as energias renováveis na linha da frente, para nos tornarmos independentes dos combustíveis fósseis da Rússia e de fazê-lo o mais rápido possível”.
Recorde-se que o REPowerEU é o plano da Comissão Europeia para tornar a Europa independente dos combustíveis fósseis russos muito antes de 2030. No pacote de estratégia solar, a UE fixou a meta de 400 GW em 2025 e 750 GW em 2030. “Um terawatt (mil GW), está ao nosso alcance”, frisa Walburga, cuja missão é tornar a energia solar na principal fonte de energia na Europa até 2030. A capacidade de armazenamento desta fonte energética também terá de aumentar dos atuais 40 GW para 200GW nos próximos oito anos.
E para que estas metas sejam alcançadas, terá de haver uma coesão nas políticas energéticas dos 27 Estados membros da União Europeia. Como diz Walburga, “há algo a acontecer, mas está concentrado em quatro ou cinco países na Europa, aqueles que têm um enquadramento robusto” para o setor.
“É necessário usar os fundos europeus para acelerar as soluções de armazenamento. Aliás, os fundos europeus e os nacionais têm de ser usados para acompanhar a transição energética”, frisou a CEO do SolarPower Europe.
Walburga Hemetsberger, CEO do SolarPowerEurope
Walburga Hemetsberger, CEO do SolarPowerEurope
Investir no “know how” nas soluções de armazenamento é também fundamental, é por isso que a start-up norte-americana Yotta Energy, em que a EDP Ventures investiu, criou uma solução simples, modular e económica de armazenamento do solar. Presente na conferência, o cofundador e CEO, Omeed Badkoobeh, explicou como desenvolveram essa bateria. “
Sofia Tavares, diretora de marketing do produto B2Bda EDP Comercial, lembrou que “a tecnologia das baterias está a evoluir muito rapidamente e os custos estão a descer a pique”, o que poderá contribuir para a aceleração da sua adoção.
Estas novas soluções de armazenamento estão já a ser desenvolvidas pela EDP a nível ibérico. “Começámos em Espanha o negócio do armazenamento, onde 10% dos clientes já compram solar com armazenamento”. Sofia Tavares afirmou ainda que no segmento B2B se verifica um acréscimo do interesse neste tipo de soluções.
A rapidez no processo decisório das empresas quando é chegada a hora de mudar para a energia solar faz toda a diferença. Como disse Omeed Badkoobeh, da Yotta Energy, “são as empresas que fazem a mudança (…) O sol tem de ser a solução e tem de ser rápido de implementar”.
O Momento para a Inovação Energética
David Rowan, especialista em tendências de tecnologia, cofundador e ex-editor geral da revista Wired do Reino Unido, que já viajou por mais de 20 países ao encontro de start-ups inovadoras, explicou porque é que este é o momento para investir na inovação tecnológica na área das renováveis e, nomeadamente, no solar.
De start-ups que destacou e que estão a aproveitar o momento, referiu os exemplos, entre outros, da norte-americana Soltrek, que desenvolve robôs para limparem painéis solares; da norueguesa Skyfri que criou um padrão analítico para monitorizar se os painéis solares estão virados no sentido certo; ou da Voyager, uma empresa que usa drones para monitorizar as infraestruturas de energia.
David Rowan afirmou que o solar é uma "oportunidade comercial"
David Rowan afirmou que o solar é uma "oportunidade comercial"
O solar “é uma oportunidade comercial” e a descarbonização leva ao “empreendedorismo solar”, afirmou, durante uma intervenção dinâmica em que foi mostrando vários exemplos de inovações tecnológicas. Rowan aconselha os empresários a mudarem a mentalidade para se adaptarem às necessidades e enveredarem pelo caminho da descarbonização.
Na sessão de perguntas, Rowan frisou ainda que há empreendedores que estão a olhar para o sol como o futuro.
O tempo para o solar é agora. Aliar à ciência, a ambição, os recursos e a criatividade é a receita para conseguirmos que esta fonte energética venha a ser a principal em todo o mundo.